TRADUÇÃO VOLUME 5 NÚMERO 2
SEMPLICE
Tu sarai all’ombra di un suicidio
e io forse avrò amato, alla fine.
Terra, sventura.
Spiraglio.
Risaliremo il destino
tra la tomba degli angeli
e quella degli uomini.
Sono uguali inchiostri i nostri
debiti d’amore.
SIMPLES
Você estará à sombra de um suicídio
e eu talvez terei amado, no fim.
Terra, desventura.
Passagem.
Remontaremos o destino
entre a tumba dos anjos
e essa dos homens.
São iguais tintas as nossas
dívidas de amor.
REFERTO
Venne su ogni figura un temporale,
così, improvvisamente,
mentre tutto era in polvere.
Cose e persone e l’ora
si stringeva scurendosi e correva
nell’arco di un azzardo
a darsi il corpo, del corpo il referto,
lo scopo delle mani, l’universo
in una stanza piena di sudore.
Così di un mio segreto
amore di una notte
provavo a raccontarti e adesso
ti scrivo che ricordo:
i due a fine temporale
non si sono più rivisti.
Oltre il momento d’acqua, il corridoio
di pioggia che fu specchio, se ne vanno
nel timore di amare, gli uomini.
E il caldo insiste,
da secoli urla noi,
afferma e nega, scompare, ritorna
in rima ingenua, dice che è del male
una radice, amore, e non ha cuore.
RELATO
Caiu sobre cada figura um temporal,
tão repentinamente,
enquanto tudo era pó.
Coisas e pessoas e a hora
se apertava escurecendo e corria
na curva de um risco
a dar-se o corpo, do corpo o relato,
o escopo das mãos, o universo
em uma estância cheia de suor.
Aí de um meu secreto
amor de uma noite
tentei te contar e agora
te escrevo que recordo:
os dois ao fim temporal
nunca mais se viram.
Além do momento da água, o corredor
de chuva que era espelho, vão-se
no temor de amar, os homens.
E o calor persiste,
por séculos berra para nós,
afirma e nega, desaparece, retorna
em rima ingênua, diz que é do mal
uma raiz, amor, e sem coração.
UNA PERSONA
Dalla luce, dal tempo
sei qui
tornato
nella fiamma
di chi ti ama e ti amò. Ti amò
la polvere dove sono,
dove s’inseguono e rivivono
la quercia e il vento di un pensiero
stretti nel rettangolo del giardino.
Torni e hai con te il mattino,
il nuovo inizio di una casa, questa
sullo sfondo, e dentro
sei nella pendola ferma che tiene,
ha trattenuto in silenzio il silenzio
delle mani, l’umiltà delle vene.
Tu canti adesso
una canzone di puro mattino.
Il catalogo delle finestre sulla notte
tanto aperto si è chiuso.
Istante della voce, voce del sempre, lettere.
Mandate lettere al loro indirizzo.
Lì chiara l’anima tornò.
UMA PESSOA
Da luz, do tempo
você está aqui
tornado
na chama
de quem que te ama e te amou. Te amou
a poeira onde estou,
onde perseguem e revivem
o carvalho e o vento de um pensamento
estreito no retângulo do jardim.
Torna e tem contigo a manhã,
o novo início de uma casa, esta
sobre o fundo, e dentro
está no relógio parado que mantém,
seguro no silêncio o silêncio
das mãos, a humildade das veias.
Canta agora
uma canção de pura manhã.
O catálogo das janelas à noite
tão aberto se está fechado.
Instante da voz, voz do sempre, letras.
Mande cartas a seu endereço.
Lá clara a alma retornou.
LETTERA DALLO STESSO LUOGO
Vivo qui, mi racconti, dove
porta a un solco doloroso
il mercato dei giorni: chi
in settembre assente
si mescola nel giro a vuoto
di un vinile; chi
toglie dal fuoco un’ombra prolungata
nel genio antico della casa; chi nello stesso luogo
si abbandona già al gelo di uno specchio
e sputa
sul quaderno della fine
aperto sempre, e ora. Ora, non credere,
niente si è perso, niente
in filigrana. Le perdite
tornano, sono qui coi miei anni
in un solco doloroso, e felice,
dici, tornano i loro visi.
Da qui vivi, ti dico. È tutto.
CARTA DO MESMO LUGAR
Vivo aqui, me conte, onde
leva a um rastro doloroso
o mercado dos dias: quem
no setembro longínquo
se mistura no giro ao vazio
de um vinil; quem
tira do fogo uma sombra prolongada
no gênio antigo da casa; quem no mesmo lugar
se abandona já à geada de um espelho
e cospe
no caderno do fim
aberto sempre, e agora. Agora, não crer,
nada está perdido, nada
em filigrana. As perdas
retornam, estou aqui com meus anos
em um rastro doloroso, e feliz,
você diz, retornam os seus rostos.
Daqui você vive, te digo. É tudo.
NEGLI ANNI UN NERVO
È stata una città e tutto un ritorno
verso casa, verso sera.
Era una strada, nel bianco del caldo
nell’impermanenza di due ore
diverse.
Dentro, l’immagine di un ragazzo.
Ed era
stringere negli anni un nervo, fissando
il fuori in fiamme col tremore
dei temporali negli occhi.
NOS ANOS UM NERVO
Foi uma cidade e todo um retorno
para casa, para tarde.
Era uma estrada, no branco do calor
na impermanência de duas horas
diversas.
Dentro, a imagem de um rapaz.
E era
apertar nos anos um nervo, fixando
o fora em chamas com o tremor
dos temporais nos olhos.
Traduções: Lucas Zaparolli
Cristiano Poletti (Treviglio, 1976) é o autor de Porta a ognuno (poesia, L’arcolaio, 2012); do ensaio Trovandomi in inviti superflui, in L’attesa e l’ignoto - L’opera multiforme di Dino Buzzati i (L’arcolaio, 2012); prosa crítica coletada em poetas (correspondência literária, 2019); o livro-DVD Libellula gentile, com o documentário de Francesco Ferri dedicado à figura e obra de Fabio Pusterla (Marcos y Marcos, 2019); de Temporali (poema, Marcos y Marcos, 2019). De 2007 a 2017 dirigiu Trevigliopoesia, festival de poesia e vídeopoesia. Desde 2013 é editor do liter-blog Poetarum Silva (poetarumsilva.com). Ele trabalha na Universidade de Bergamo.
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