Andrea Zanzotto por Danilo de Marco
IDEIA
E todas as coisas ao meu redor
capto antecedentes no existir.
Morna verde a nitidez dos dias
oculta, macia os asperge,
de insetos e pássaros se agita e cintila.
Tudo está cheio e caótico,
tudo, escuro, triunfa e se prostra.
Também pra ti, minha linguagem, faísca
e travessia, por desconsolado sono
por erros e delíquios
por preguiças profundas insondáveis,
que te formaste corrupta e absoluta.
Também tu minha breve nitidez
de células mentais, tronco halo
de urros e pensamentos
imprevisto e eternos.
E sem vida a palpitação dos frutos
e das selvas e da seda e dos
revelados cabelos de Diana,
do seu docíssimo sexo feliz,
e, agra e vívida, a ardência
que nas unhas penetra e nas forragens
prontas a ferir,
e o nunca mudo e pago coração,
tudo é rico e perdido
morto e insurgente
entretanto na luz
na minha vã claridade de ideia.
IDEA
E tutte le cose a me intorno
colgo precorse nell’esistere.
Tiepido verde il nitore dei giorni
occulta, molle li irrora,
d’insetti e uccelli s’agita e scintilla.
Tutto è pieno e sconvolto,
tutto, oscuro, trionfa e si prostra.
Anche per te, mio linguaggio, favilla
e traversia, per sconsolato sonno
per errori e deliqui
per pigrizie profonde inaccessibili,
che ti formasti corrotto e assoluto.
Anche tu mio brevissimo nitore
di cellule mentali, tronco alone
di gridi e di pensieri
imprevisti ed eterni.
Ed esanime il palpito dei frutti
e delle selve e della seta e dei
rivelati capelli di Diana,
del suo felice dolcissimo sesso,
e, agra e vivida, l’arsura
che all’unghie s’intromette ed alle biade
pronte a ferire,
e il mai tacente il mai convinto cuore,
tutto è ricco e perduto
morto e insorgente
tuttavia nella luce
nella mia vana chiarità d’idea.
EU ATESTO
Não pra ti amor nu
Não pra ti monte nu
se endereça a haste de ouro
que a minha caneta projeta na noite.
Em neon raios se enliriam.
Deneb – e a seringa no ninho de água estéril
Escândalo e sinos
na tetra cidade ao pé do monte.
Monte: horas com olho de osso
longuíssimas versas,
sabor estável de ervas, manto de ervas,
miragens amargurantes de fontes.
Olhas a flor murchada num reflexo.
Cai em cima das bandeiras das praças
a tua luz, de monte, luz dirigida
alhures,
o teu peso o teu canto
não ouvido
não habitado.
Olhas a flor num arrepio, surrexit.
Cânfora e sangue de mim
piso, entorpecimento.
Alhures
eu surdamente atesto,
eu descendo do mundo.
O meu amanhã.
Tu (monte) distinto do pulsar
dos semáforos incertos,
deus de desertos e dobras e de noites...
IO ATTESTO
Non a te nudo amore.
Non a te nudo monte
s’indirizza lo stelo d’oro
che la mia penna proietta nella sera.
In neon lampi s’ingigliano.
Deneb – e la siringa nel nido d’acqua sterile.
Scandalo e campane
nella tetra città sotto monte.
Monte: ore dall’occhio d’osso
lunghissime versi,
sapore stabile d’erbe, manto d’erbe,
miraggi amareggianti di fontane.
Vedi il fiore marcito in un riflesso.
Crolla sulle bandiere sulle piazze
la tua luce, di monte, luce volta
altrove,
il tuo peso il tuo canto
non ascoltato
non abitato.
Vedi il fiore in un brivido, surrexit.
Canfora e sangue da me
torpore, pavimento.
Altrove
io sordamente attesto,
io discendo dal mondo.
Il mio domani.
Tu (monte) distinto dal palpito
dei semafori incerti,
dio di deserti e di pieghe e di sere...
IMPOSSIBILIDADE DA PALAVRA
Se contigo, irmã, se em teu lugar
jazendo corpo de vidro, pelo vidro
do caixão de baixo
doce e medroso, o mundo
eu via, ontem, por entre os sussurros
de sinos e a lamúria de novembro
– como num velho filme foi narrado –
se trocava o teu silêncio com o meu,
não maior a aflição, não a morte
maior: e consumido
o lasso equívoco ora me doeria?
E se por ti companheiro, em teu lugar
os fulgurantes prados
a terra cortante a neve
saciada tivesse,
em teu grito como grito meu
por ti, de coração rasgado, que
fatal e fosco dia com feliz rosto
com aberto peito saudado teria.
O que me deixou longe
de vós, do vosso sonho
estéril ou da vossa
humilde apoteose? Talvez aquela
que dizem suja esperança –
e no jogo incitado ainda
por vísceras agitadas
de presente, por físicos esforços
não desertei deste
existir onde terra
toca e bebe a mente, onde o sol
é um martírio distante.
Não desertei, nem seguir-vos me foi dado
além do acontecido
o esquema átono abafado das lágrimas.
Esperança e fé, virtudes que dos céus
descendem, bem mais que o fogo ofendido
de compaixão. Vozes e olhos muito
traídos, mas tu bem mais ofendida
compaixão sem potência, perturbada
alma; nem a ti quis salvar
para no final te perder, piedoso
não fui muito de mim se primeiras e verdes
sempre, nas minhas sombras,
esperança compaixão fé não fostes vós
a que piedade de nós é dita.
E se um dia da lama,
de uma vigília impossível,
ou de uma sede não humana,
ou de uma inominável certeza
eu-não-eu repensasse neste espaço
gota, astuta pedra, nesta
sacra e feroz brevidade de coisas
e fins e signos, se o fogo de Marte
eu visse envolto em suas noites e mares
de efêmeras saudáveis maresias
e moças que se estendem pra abraçar
o lampejar dos ínferos
e a obra que edifica e recai
em si como num sonho, talvez eu também
– réu de esperança e de amor –
se tu fosses, seria eu, tu que é de loucos
o nomear, de loucos o calar?
Tumba densa, espera, eco, de cabeça
cortada: ao mais blasfemo
dos silêncios equivale.
Mas de onde em sons que nada
não de ti cheios ensinam, não céus
nem obras nem semblantes nem o mesmo
ressequido seu contradizer-se,
vou me arrastando e tento?
Das manhãs horrorosas tu me liberta-me
da luz infinita que não conduz
a si as minhas mal postas
paixões, os gestos em vão repetidos,
das manhãs tira-me, dos acordares
no radiante terror,
tu acordar perpétuo sobre ti mesmo.
IMPOSSIBILITÀ DELLA PAROLA
Se con te, sorella, se in tua vece
giacendo corpo di vetro, dal vetro
della bara dal basso
dolce e pauroso, il mondo
veduto avessi, ieri, tra bisbigli
di campane e il compianto di novembre
– come in un vecchio film venne narrato –
se il tuo silenzio col mio mutato avessi,
non maggiore l’affanno, non la morte
maggiore: e consumato
lo stanco equivoco ora mi dorrei?
E se per te compagno, se in tua vece
i folgoranti prati
la terra tagliente la neve
saziata avessi,
nel tuo grido quale grido mio
per te, dal cuore lacerato, quale
fatale e fosco giorno a lieto volto
a aperto petto salutato avrei.
Che mi trattenne lungi
da voi, dal vostro sonno
sterile o dalla vostra
umile apoteosi? Forse quella
che dicono sporca speranza –
e al gioco spinto ancora
da viscere agitate
di presente, di fisici conati,
non disertai da questo
esistere ove terra
tocca e beve la mente, dove il sole
è un lontano martirio.
Non disertai, né seguirvi mi fu dato
oltre l’accadimento
lo schema atono afoso delle lacrime.
Speranza e fede, virtù che dai cieli
discendono, assai più che il fuoco offeso
di carità. Voci ed occhi traditi
assai, ma più tu offesa
carità senza potenza, sgomenta
anima; né te volli salvare
per alla fine perderti, pietoso
non fui troppo di me se prime e verdi
sempre, nelle ombre mie,
speranza carità fede non foste voi
quella che pietà di noi si dice.
E se un giorno dal fango,
da una veglia impossibile,
o da una sede non umana,
o da un’innominabile certezza
io-non-io ripensassi a questo spazio
gocciola, astuta pietra, a questa
sacra e feroce brevità di cose
e sensi e segni, se il fuoco di Marte
cogliessi avvolto alle sue sere e mari
di salutari effimere salsedini
e fanciulle protese ad abbracciare
il luccichio degl’inferi
e l’opera che edifica e ricade
in sé come in un sogno, forse anch’io
– reo di speranza e d’amore –
se tu fossi, sarei, tu ch’è da folli
il nominare, da folli il tacere?
Stipato avello, attesa, eco, di testa
mozza: al più blasfemo
dei silenzi equivale.
Ma donde in suoni che nulla
non di te colmi insegnano, non cieli
né opere né volti né lo stesso
adusto loro contraddirsi,
io mi trascino e tento?
Dai mattini orribili tu liberami
dalla luce infinita che non leva
a sé le mie scomposte
passioni, i gesti invano ripetuti,
ai mattini toglimi, ai risvegli
nel raggiante terrore,
tu risveglio perpetuo su te stesso.
De Vocativo (1957), Andrea Zanzotto (1921-2011)
Tradução: Patricia Peterle
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