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Venus Brasileira Couy

Atualizado: 22 de jan. de 2023

POESIA VOLUME 5 NÚMERO 1


HAIKAI DOMINICAL


Inesperada tiara

refletida

no espelho.

Chuva de vidrilhos

gotejando.

Por entre finos fios,

névoas.

Perdida

entre magnólias,

quedei-me:

cúmplice

abatida.



VERSO LIVRE

Sequioso,

o silêncio

lateja

e expulsa

a palavra

imerecida.



CONTRABANDO

Palavras

ilícitas,

sopro

nos teus ouvidos.

Entre trinta

e outros trinta minutos,

fazemos contrabando,

escambo de livros,

citações

e sílabas esquecidas

em meio ao inverno

febril

e seco.



O COLAR

O ser poeta te sabe o ornamento, desconversas.

Hilda Hilst


Geometria

e graça,

assim é

o colar

que trazes

preso

ao pescoço

nu.

A bijuteria italiana,

por entre filas,

cintila

e é toda aderência,

lanterna-lantejoula

à espreita

do nome,

traçado

às pressas

sobre a página

aberta.

Geometria

e graça.

Assim é.



JARDIM AO LADO


Jardim de Portugal

plantado em mar,

no desvão

li furtivamente

teu olhar,

esta vidraça

de cristal e ferro

posta ao largo,

e topei

com tua solidão,

teu exílio,

tua barcaça de marfim

navegando

na ilha da hora nenhuma,

corolário teu,

teu infinito estranho,

teu sortilégio

imerso

no mar de dentro.



Venus Brasileira Couy é Doutora em Teoria da Literatura (UFRJ), com pós-doutorado em Literatura Comparada (UFRJ). Poeta e ensaísta, publicou, entre outros livros, Do amor mais abrigado do vento (Rio de Janeiro: Edições Magnólia, 2007), Mural dos nomes impróprios: ensaio sobre grafito de banheiro (Rio de Janeiro: 7Letras, 2005) e Inverno de baunilha (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004).


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