GALERIA VOLUME 5 NÚMERO 1
Sobre o trabalho de Ronald Polito como artista plástico, apresentamos duas notas críticas:
“Cidades de nanquim; cruzamentos articulados em seda de cigarro; pequenas cadeiras, escadas e cubos de grafite; torres de palitos e ínfimos esqueletos desconexos geram princípios de exceção às escalas excessivas dominantes da arte contemporânea. Se a escala se refere ao tamanho de um objeto em relação a outro, provocando os princípios de organização dos elementos no espaço, a minimalidade dos minimundos de Ronald Polito não pode ser reduzida ao tamanho das obras, mas apenas percebida a partir do sistema estabelecido por meio do encontro entre o observador e o objeto. Nesse universo, a tessitura de uma estética relacional é elaborada no momento em que cada corpo se torna o corretivo a partir do qual a proporção pode ser definida, dimensionada e discutida. Em uma inversão de escalas, cada objeto de minimundos procura traduzir relações complexas em torno da representação do espaço das cidades, das edificações e das coisas no mundo. Ao contrair as escalas, o espaço se expande! Por meio das dissonâncias e interconexões, minimundos se abre aos acontecimentos improváveis, os quais apenas podem ser pressentidos.”
Yacy-Ara Froner
Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte)
“Há um desejo — e, também, um prazer — quase maníaco de ordem, de equilíbrio, que se expressa na tentativa feliz de domar a matéria em sua possibilidade de oposição à tensão desse mesmo equilíbrio. Em várias dessas obras, principalmente nos objetos construídos com grafites, a noção de estrutura guarda em si mesma a noção pretérita de desabamento. São como acidentes por via de acontecer, mas que se mantêm controlados. É o milagre da arte. E só dela. Se há em alguns desses trabalhos certa tendência ao figurativo (em geral, sempre pronto a uma ironia pontual em seu conceitualismo, como no caso de uma sucessão de muros que se sucedem), eles guardam também sua superação aos olhos encantados do espectador, que vê no seu tratamento delicado e no jogo de cores a impossibilidade de ancoragem em sentidos externos à própria obra. A maldade do autor pode encontrar sua corrupção nos olhos do espectador. Além dos finíssimos grafites, cujo uso, até onde sei, é uma novidade nas arte plásticas, há as colagens de folhas de papel-manteiga e de seda (com as superfícies queimadas) que se põem delicadamente sobre o papel criando abstrações com formas geométricas irregulares que nos remetem aos delicados desenhos geométricos de Paul Klee. Quando ao título da exposição, não é outra coisa que quer Ronald Polito com sua obra meticulosa senão criar minimundos, com um “discurso” visual despossuído de qualquer grandiloquência, indo o artista, ao contrário, na direção de um de seus autores preferidos, Beckett, e seu “dizer mínimo”.
Jardel Dias Cavalcanti
Universidade Estadual de Londrina (PR)
Ronald Polito (Juiz de fora, 1961) é poeta e tradutor. Publicou os livros de poesia Solo, Vaga, Objeto, Intervalos, De passagem, Pelo corpo (com Donizete Galvão), Terminal, Ao abrigo e Rinoceronte, e o infanto-juvenil A galinha e outros bichos inteligentes, com poemas visuais de Guto Lacaz. Traduziu escritores catalães como Joan Brossa, Narcís Comadira, Carles Camps Mundó e Maria Mercè-Marçal, e de língua castelhana como José Juan Tablada, Luis Cernuda, Roberto Echavarren, Mario Arteca e Jorge Tamargo. Fez o estabelecimento de textos de Tomás Antônio Gonzaga, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, Joaquim Manuel de Macedo, Eça de Queirós, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Pelo selo independente Espectro Editorial publicou 60 plaquetes com poesia, tradução e prosa. Nos últimos dez anos passou a trabalhar mais intensamente com artes plásticas realizando a exposição individual Minimundos no Museu de Arte Murilo Mendes (Juiz de fora, março a agosto de 2019) e na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (Belo Horizonte, novembro de 2019 a janeiro de 2020), participando de coletivas de artes plásticas e ilustrando capas de livros e plaquetes de poesia.
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