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Mariana Marino

Atualizado: 22 de jan. de 2023

POESIA VOLUME 5 NÚMERO 1


I


Mais fácil amar um animal

a um homem

por mais bicho que este

homem seja

Os tamanduás dormem abraçados

ao rabo

na entranha da flor vivem os

besouros

as taturanas nas folhas sem sol

os homens

não se sabe ao certo


II


Dizem que a floresta

foi plantada

existia chão algumas sementes

nasceram ali

não eram altas como os troncos

duros do guapuruvu

nem seguiam a luz por entre as clareiras

porque só havia chão algumas sementes

moscas nos charcos

até da terra brotar o corpo

as mãos

que combinam sementes

mais fácil amar um

homem com mãos

grotescas como o abutre

que escolhe para si a copa

plantada

por mãos como as suas

-por isso permanece



À ESPERA


Nas bordas dos vasos

lírios e cactos

pequenos fungos

à espreita dum voo rasteiro-

asas abertas da mariposa-

um pedaço de céu a pousar

nas encostas terrosas.

Não é agosto, apesar do frio

o tempo se move pelas sombras

nas paredes brancas.



PROCESSO CRIATIVO

Quando a terra encrostar

nas bordas dos vasos

e a palavra engasgar a laringe

seca, como as plantas

suas mãos estarão aqui

a desatar os nós das tubulações

e raízes do corpo

em espera



Mariana Marino nasceu em Lins, no interior de São Paulo, em 1990. Reside em Curitiba desde 2003, onde é licenciada em Letras pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mesma instituição em que fez seu mestrado. Atualmente, é doutoranda em Estudos Literários na Universidade Federal do Paraná. Pesquisa possibilidades de aproximação entre poesia e a abordagem teórica Ecocrítica e tem interesse em explorar temáticas da natureza na literatura de mulheres latino-americanas e portuguesas. Integra a Membrana, grupa crítica-afetiva de escritoras e escritores, ouvintes e leitoras e leitores. Também faz parte do grupo interuniversitário de estudos Ecocríticos (GECO).

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