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5 poemas de Ana Cristina Joaquim



*


uma coisa p/ se agarrar em 27 do um de 2016

1 xereca iluminada

as esferas distintas – sobre perseguir algo obstinadamente –

bem aquilo de q falávamos

sem titubear

de casar ca literatura

– a hilda hilst faz contato com o absurdo

o q é felicidade p/ vc?

kaaaabum:

(olha eu queria saber em q parte do corpo se vive

p acender os leds na noite imensa)

mta pakera indescritível

amor no curral

drogas lisérgicas d alta qualidade

ensinar nossa neném a usar carabina fazer bomba

matar madeireiro – caminho aberto p os rato.

a indicação é ñ engravidar:

alopatia plástica e pelanca dps d ser embuchada.

- oi eu fiz neném

- tava na cara q era vc.

eu ñ recomendo casar c/ homi nenhum

eu tropeço em casamentos

eu tô só nesse avanço vertiginoso de pintos furta-cor

eu gosto d muléris

homem como categoria é algo detestável.

ñ posso alegar ignorância

casamento burguês é 1 formato falido

porém

viciante. amor livre é bom libertador

mas rola 1 coisa estranha:

mistura de ciúmes com hpv.

(a boca treme ao choque dos elos

a carne ascende ao mover do sangue

o sangue atiça o pomar do mundo:

há corpos contra corpos)




*


chororô, angústia lacrimogênia

vamo lá tomá 1 negocinho?

tpm devastando td por aki

hj comi 5 kg de arroz

o psicológico

tb passa pela boca antes d chegar no estômago e virar excremento.

eu p. ex.:

escrevi uma redação qndo tinha 13 anos

levava umas palavras altas

impelidas pelo renque d luz

obra geral em q me punha diante da realeza

e dizia o qnto a torpeza diminui o mundo.

terminava assim:

“cadeia neles, cadeia!”

(agora:

volto aos tumultos dos dias tremendos

e me pergunto pelas putas que irão salvar o mundo)




*


hello angels

aki umas lágrima de alegria & saudady a pretexto de uma flor.

minha alma foi estigmatizada após retornar d dias felizes

bora plis encontrar 1 jeito d resolver essa miséria

enfiar goela abaixo esse ovo q entupiu minha garganta.




*


ele c/ pênis na mão e auréola de anjo

ele perdeu a cueca tal e coisa

ele ñ é mais o mesmo

ele casou e tal

ele tá comendo uma puta salvo engano

verme insolente

protozoário invertebrado

múmia purgante.

(por onde anda, por onde os pés sobre os perímetros, Peri?

princeso aceso em leds dégradée

músculo convulso pálpebra comprida

coseu em mim os dedos cravados

em mim as animalidades abertas à exaltação)




*


biomimetismo

bioinspiração

ouriço da castanha-do-pará

(bertholletia excelas)

varredura nanodureza

vô tenacificar a minha auréola

(water is weird diz a cientista

enquanto eu digo apenas

tô um farrapo mto cansada

preciso d alguém q venha acordar o

monstro q dorme em mim)





Ana Cristina Joaquim é poeta e professora. Publicou Gama Cromática (à maneira de Peter Greenaway) em 2015 pela editora Córrego e organizou três volumes da antologia Anamorfoses (2014 Annablume; 2016 Lume; e 2018 Córrego). Tem poemas publicados em antologias e revistas literárias. É formada em Letras (graduação e doutorado/USP; pós-doutorado/UNICAMP) e em Filosofia (graduação/USJT e mestrado/UNICAMP).

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