A Antonin Artaud
Apesar da fraga peduncular,
Festejo a tarde.
Cheiro, racionalizo
E bebo da imensa frescura de luz.
Vital a liberdade da saudosa aventura:
Paris-turva.
Avanço.
Druida da disfuncional
Quimera lisa,
- furúnculo.
Ponte atravessada pela cavilha da fome vindoura.
Seda, baba e esfinge meio calada,
Louca, por fim!
Até que uma nova boca,
Tecido de ralo,
Bidonville ou
Rapé de caminho solto
E enxuto,
Me resplandeça...
O tremor.
Ahab, capitão
Mergulho no azul do poema
Desafiando ordem alguma
E sonho um verso que não: «
Baleia, baleia, baleia, baleia...»
SÓ ESTA NOITE
Tiro a folha do bolso de trás.
Outra forma de vida.
Um céu demasiado limpo.
(queria tanto cheirá-lo)
Sopra a vida que conhecerás.
Casa de cetim translúcido.
Fendas acidentalmente pisadas.
A bebida que bebe o homem.
(Grito teu nome no papel branco)
- Amanhã durmo até tarde na campânula.
- Fingiremos só esta noite.
AÇORES
Da cava janela,
Um meteoro abstrato
Ofusca a delícia da vista,
Obstruindo o manto natural.
Reinam o cone asfáltico,
Areia sintética,
A faúlha polar,
Tijolo
Glacial.
Invento um
Sonho de mil'anos,
Extermínio
Interno
Brutal
:
Campos
De verde-chá,
Fresco tapete branco,
E azul cheiro de mar,
Sem gente
Apocalíptica
No local.
Pedro Vale é um escritor e poeta português que habita na Madeira. Professor de Português e Inglês, leciona no primeiro ciclo desde 2002, tendo cursado Ciências da Cultura e encontrando-se de momento a frequentar o mestrado em Gestão Cultural na Universidade da Madeira. Azul Instantâneo é o seu primeiro livro.
Comments