BUQUÊ
Da bolsa
sai um buquê de versos,
a voz do ambulante e
a dos pescadores,
o cheiro do mar,
a areia espessa da Urca
e a noite escura.
SÓ SABIA QUE NÃO PODIA CAIR
Na Praia do Norte,
os animais cnidários e os oceanos,
a anêmona do mar,
os recifes em franja,
os atóis.
Dos versos,
a derradeira
inscrição:
“Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto ao mar”.
Na superfície do oceano,
a vida principia.
O coral raso
e o mar azul
pertencem à Maya?
O poema em alto mar
afaga o
recorde inédito,
o irresoluto verso,
a precisa
onda
por onde passam
pernas
brancas,
pretas,
pardas,
de todos as nacionalidades
e continentes.
Destemor e sobressalto,
mar e chuva,
pétala e espuma,
a Onda Gigante de Nazaré,
que não se contabiliza apenas em
metros e palavras,
exibe o poema-surfe
de Maya Gabeira:
73,5 pés,
imperioso,
aguardado,
grandiloquente como os ventos da Costa Oeste.
FIM DO JEJUM
O mar que desconheço,
tão perto,
as palavras certas,
tão longe
mergulhadas nas ondas
de Melville,
desdita pelos baleeiros,
épico ofício
em meio à dor,
ao balançar dos botes,
à lança em punho,
à solidão da noite
e aos naufrágios,
sempre os naufrágios.
Após longo jejum,
o lápis com a
ponta
por fazer
pressiona o papel.
Vejo o poema,
que me fita incrédulo
— tão jovem —
e em letra irregular
reverbera antigo
e já não é mais sombra.
Venus Brasileira Couy é poeta e ensaísta. Doutora em Teoria da Literatura pela UFRJ, publicou, entre outros livros, Quase poema (7Letras, 2020), Mural dos nomes impróprios (7Letras, 2005) e Inverno de baunilha (7Letras, 2004).
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